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HERANÇA OU LEGADO? A CONSTRUÇÃO DE PERENIDADE NAS EMPRESAS FAMILIARES DO AGRONEGÓCIO

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As empresas familiares são a espinha dorsal do agronegócio brasileiro, representando cerca de 80% das propriedades rurais, de acordo com a Embrapa. Estas organizações desempenham um papel fundamental na economia nacional, mas enfrentam desafios únicos, especialmente quando se trata de continuidade e longevidade. Embora a maioria dos fundadores deseje que suas empresas perpetuem o sucesso alcançado, muitos se deparam com a questão: estamos construindo uma herança ou um legado?


A diferença entre herança e legado vai muito além de conceitos financeiros. Herança é o conjunto de bens materiais e ativos que são transferidos aos herdeiros. Legado, por sua vez, é o conjunto de valores, cultura e propósito que norteiam uma organização e que transcendem gerações. Esse conceito é particularmente relevante no agronegócio, onde o trabalho e os valores frequentemente estão intrinsecamente ligados às tradições familiares e à relação com a terra.


Pôr em prática uma gestão organizada a partir de um planejamento estratégico inteligente significa não apenas construir uma herança valiosa em termos financeiros, mas também um compromisso com as gerações futuras. Isso se traduz na criação de uma marca que, décadas após seu surgimento, seja reconhecida por sua confiabilidade, tradição e eficiência. É esse tipo de gestão que transforma heranças e legados.


Empresas familiares enfrentam uma série de desafios para garantir sua continuidade. Estima-se que apenas 30% dessas empresas sobrevivem à segunda geração, e menos de 15% chegam à terceira, segundo estudos do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa). No agronegócio, esses números podem ser ainda mais impactantes, devido à complexidade operacional e aos riscos climáticos e de mercado inerentes ao setor. É nesse contexto que a implementação de boas práticas de governança, o uso de estruturas como holdings e a adoção de princípios ESG (ambientais, sociais e de governança) se tornam indispensáveis.


A governança corporativa é um dos pilares para garantir que empresas familiares do agronegócio possam enfrentar os desafios da sucessão e da longevidade. Ela organiza e formaliza as relações entre os membros da família, estabelecendo regras claras sobre sucessão, gestão e distribuição de resultados. Essa estrutura minimiza os conflitos, tão comuns em empresas familiares, e cria um ambiente favorável para a continuidade do negócio. A implementação de um acordo societário bem estruturado é essencial para alinhar expectativas e garantir que a tomada de decisões seja pautada pela transparência e pelos interesses coletivos.


Outro elemento central na construção de um legado no agronegócio é a criação de uma holding familiar. Essa estrutura permite organizar o patrimônio da família, protegendo-o e facilitando o processo sucessório. Além disso, a holding oferece benefícios fiscais e protege os ativos de eventuais disputas ou problemas financeiros que possam surgir no futuro. No agronegócio, onde o patrimônio muitas vezes está diretamente ligado à terra, a holding é uma ferramenta estratégica para assegurar que os ativos sejam preservados e utilizados de forma eficiente pelas próximas gerações.


A incorporação de práticas ESG também se destaca como um diferencial competitivo no mercado atual. Cada vez mais, consumidores e investidores estão atentos ao impacto socioambiental das empresas. No agronegócio, isso significa adotar práticas que promovam a sustentabilidade, como manejo responsável da terra, preservação de recursos hídricos e condições dignas de trabalho. A adesão a princípios ESG não é apenas uma questão ética; é uma necessidade estratégica para empresas que desejam permanecer relevantes em um mercado cada vez mais exigente. Em 2020, 210 novas empresas brasileiras se comprometeram com os princípios do Pacto Global da ONU, demonstrando o movimento crescente em direção a práticas empresariais mais responsáveis.


É importante ressaltar que a construção de um legado vai além de ferramentas e estratégias. Trata-se de cuidar das pessoas que fazem parte do negócio – desde os fundadores até os colaboradores e as comunidades impactadas. Essa abordagem requer sensibilidade para lidar com as dinâmicas familiares e os desafios emocionais que muitas vezes surgem durante os processos de sucessão. Contar com uma equipe multidisciplinar, que inclua advogados, consultores e até psicólogos, pode fazer a diferença na condução desse processo, garantindo que as decisões sejam tomadas de forma alinhada aos valores da família e aos objetivos do negócio.


Ao implementar uma gestão pautada pela governança, pelo uso estratégico de holdings e pela incorporação de práticas ESG, as empresas familiares do agronegócio podem transcender os desafios imediatos e construir uma narrativa de perenidade. Transmitir um legado significa preservar não apenas a performance econômica, mas também a essência que torna o negócio único. É sobre inspirar as próximas gerações a honrar o que foi construído, enquanto inovam e criam um futuro sustentável.


No final das contas, estamos aqui para fazer escolhas. Algumas famílias optarão por deixar apenas uma herança – um conjunto de bens que, embora valiosos, não carregam em si a força de uma visão compartilhada. Outras escolherão construir um legado – um conjunto de valores, práticas e histórias que perpetuam o que realmente importa. No agronegócio, onde o tempo é medido em ciclos, e não em anos, o legado é a verdadeira marca de uma família que não apenas cultivou a terra, mas também cultivou vidas e valores.


No final, trata-se de cuidar. Cuidar do que foi construído, das pessoas que fizeram parte dessa jornada e das que continuarão a trilhar esse caminho. Implementar conceitos de ESG, governança e holding não é apenas uma estratégia empresarial; é um compromisso com as gerações futuras, tanto no campo econômico quanto no familiar. É deixar um mundo melhor para nossos filhos e filhos melhores para o mundo.

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